O Desterrado é sem dúvida o momento cimeiro da escultura oitocentista. Executada parcialmente em Roma em 1872, como prova de pensionista, Soares dos Reis concluí-la-ia já no Porto. O gesso foi modelado tendo em vista a concretização da peça em mármore, onde o escultor teve também ativa participação. Se o sentido geral da escultura é romântico – a inspirá-la estiveram os versos das Tristezas do Desterro de Alexandre Herculano, – um classicismo que enforma a pose da figura e remonta ao Ares do Museu das Termas de Roma, coexiste com um subtil naturalismo presente na modelação do corpo. Mas é O desespero de Joseph Perraud, de 1861 (Museu d’Orsay), exposto no Salon de 1869 com grande sucesso e adquirido pelo Estado francês nesse mesmo ano, que Soares dos Reis terá visto e que mais profundamente o terá inspirado.
Figura de jovem, sentado com as mãos entrelaçadas e apoiadas nos joelhos fletidos, a cabeça escondendo o rosto, de cabeleira semelhante à de O desterrado, assume uma indiscutível influência neste último para além do mérito absoluto que revela. A intensidade desta escultura é expressa pelo contraste entre o dinamismo da figura, articulada em dois eixos oblíquos cruzados e o olhar fito no chão, que presentifica uma interioridade onde ecoa um tempo outro. As mãos entrelaçadas, o pé apoiado contra a perna ou os lábios contraídos são outros tantos sinais de inquietude dessa consciência ferida a que faz alusão. Réplica de Susana Correia